Carnaval: festas ou livros?

A verdade é a seguinte: a maioria dos cariocas amam carnaval e, por isso muitos acreditam que carioca não faz nada a não ser pular e dançar nessa época do ano. Outros acreditam que porque a gente gosta de carnaval, nós não sabemos curtir nada mais que uma festa ou qualquer coisa do estilo. Sinto lhes informar que isso é uma mentira.


Felizmente tenho que dizer que existem 3 tipos de cariocas:


*Os que amam carnaval com todas as suas forças e passam o ano inteiro pensando o que farão nessa época;


*Os que não suportam carnaval e que se puderem fogem do estado e até mesmo do país nessa data insana;


*E os malucos e indecisos como eu, que ficam se remoendo e se extenuando para acabar os livros que estão lendo para poder curtir o carnaval que, no final das contas ocorre apenas uma vez no ano.


Sei que muitas pessoas não acreditam que possa existir alguém que goste de ler e curta carnaval ao mesmo tempo. Mas posso justificar esse raciocínio diante de vocês, é uma coisa bem simples. Segundo Arthur Christopher Benson, 

"Todas as melhores histórias do mundo, na realidade, nada mais são do que uma única história, a história da fuga. É a única coisa que nos interessa a todos e todo o tempo: como fugir."

 Assumo que isso é um pouco dramático, mas acredito que muitas pessoas gostam de ler justamente porque gostam de fugir por curtos períodos de tempo da sua vida. Fugir de não conseguir encontrar o companheiro perfeito, fugir de não ter sorte, de não ser rico, de não ser engraçado, de não ter um pouco de magia... fugir desse mundo monótono quando comparado aos nossos mundinhos de tinta e papel.


E que lugar melhor para curtir essa pequena fuga do que nos blocos de rua do Rio de Janeiro? Concordo que, infelizmente, não posso falar sobre o carnaval no resto do Brasil ou do mundo (minhas viagens não são muito freqüentes), mas posso dizer que nesse meu pedacinho de paraíso, me divirto tanto quanto em qualquer livro. E existe um motivo para isso.


Por mais incrível que pareça, o carnaval no Centro do Rio (e na Zona Sul) faz parecer que pertencemos a um outro mundo. Os eventos são de graça, blocos de rua são todos com entrada franca; as pessoas parecem estar sempre mais felizes do que no resto do ano, todo mundo é mais simpático; a alegria é contagiante e parece afetar os seres humanos em nível celular, com todos evitando brigas, tornando-se amigos e gerando mais alegria...


Eu diria que esse fato é impossível de acontecer, se eu não tivesse visto com os meus próprios olhos. Mas eu vi. E me toquei que a sensação de quando um livro acaba com final feliz, me traz a mesma sensação boa. Mas na verdade, no carnaval é melhor. Porque apesar de estar sentindo isso quando acabo um livro, percebo que isso é um sentimento coletivo no carnaval. Todos se sentem assim.


E é por isso meus amigos, que ao contrário do meu primo, que se afasta do carnaval indo para shows de Rock, ou da minha amiga que se puder viaja para Brasília para ficar no meio de um monte de gente séria, eu me fantasio (ou não) e caio na folia. Deixo as páginas, e vou viver a emoção coletiva da felicidade.


E para quem já ouviu falar em espírito natalino e nunca percebeu isso com grande ênfase no Brasil, apenas um aviso:

O Natal pode não ser o espírito do brasileiro. Mas o carnaval mostra o lado mais bonito da nossa gente, dessa gente que "ri quando deve chorar", dessa gente que em um dia faz milhares de amigos e consegue manter essa amizade o resto do ano só pelo momento de pura felicidade no qual se conheceram.

Esse não é o espírito do Natal, onde somos acometidos por uma vontade de ajudar o próximo da forma que pudermos. Mas não digo que o espírito do carnaval seja menos importante. Afinal, se todos derem as mãos, quem sacará as armas?


P.S.: Esse seria um post para deixar claro algumas dicas de livro para o pessoal que não gosta de sair nessa época. No entanto, apesar de não tentar convencer ninguém, acredito que o carnaval merece seu lugar de destaque. Assim, o post virou uma espécie de homenagem ao carnaval de rua do Rio... à felicidade desse povo tão lindo.